quarta-feira, 18 de abril de 2012

RIO+20 - A estratégia é mudar o sistema


Por Léia Tavares, para a Revista Nova Consciência.
Atuando por duas décadas no mercado de capitais, trabalhando como operadora da BM&F (Bolsa de Mercadorias e Futuros), a economista Amyra El Khalili já realizou transações gigantescas, negociando contratos e títulos, além de moedas, ouro, petróleo, gado, café e outros insumos. De ascendência palestina – seu pai veio refugiado do Oriente Médio em 1960 – e, tendo conhecido a fundo as mazelas sociais e os mecanismos perversos de exploração da natureza também do homem pelo homem, Amyra sempre esteve engajada na luta pelos direitos das minorias, pelo equilíbrio ambiental e, principalmente, pela paz, razão pela qual já foi indicada para o Prêmio Bertha Lutz 2007, e para o Prêmio Mil Mulheres, ao Nobel da Paz 2004. Lidando diretamente com as grandes especulações internacionais e conhecendo a fundo esse jogo em que tanto se ganha quanto se perde em milhões num mesmo dia, ela passou a estudar a relação direta entre as guerras e o mercado financeiro: “Percebia que a cada vez que o petróleo subia, estourava uma guerra em algum lugar, o que, consequentemente, tinha correlação direta com a morte de pessoas. Quando os banqueiros estão ganhando dinheiro de um lado, proporcionalmente estão morrendo milhares do outro”. Isso serviu para aproximar Amyra das questões que envolvem o ambiente e o desenvolvimento sustentável. Não compactuando com a frenética atividade predadora do mercado financeiro, preferiu lançar-se a novos desafios, dentre eles o de fazer valer a ética nas macro - relações econômicas. Se havia quem estivesse lucrando com o petróleo e as guerras, sua proposta foi a de desenvolver um modelo econômico mais justo e solidário.

E foi assim que ela, em 1996, fundou o Projeto BECE – Brazilian Enviromental Commodities Exchange -, sigla em inglês para Bolsa Brasileira de Commodities Ambientais, que tem como base o tripé educação, informação e comunicação, formou-se então a Aliança RECOs – Redes de Cooperação Comunitária Sem Fronteiras. O projeto BECE busca estimular não apenas a produção de pequenos agricultores, como também desenvolver atividades de valorização cultural de pequenas comunidades. Amyra acredita que só por meio da informação é que poderemos construir uma economia mais solidária, respeitando-se as diferenças culturais, multirraciais e religiosas. Mas para isso é preciso uma nova consciência no meio econômico.

Durante duas décadas atuando no mercado financeiro, como você se especializou na questão ambiental?
Estudando o binômio água - energia e constatando que o grande problema do Oriente Médio não era só petróleo, senão a escassez de água. Foi por isso que me senti sensibilizada pelo sofrimento de tanta gente. Entendi que estava diante de uma grave questão ambiental. “Percebia que a cada vez que o petróleo subia, estourava uma guerra em algum lugar, o que, consequentemente, tinha correlação direta com a morte de pessoas. Ao mesmo tempo em que isso gerava em mim um enorme mal-estar, junto dele aflorou uma consciência mais ampla, que me levou a pensar: “Assim não é possível! Esse sistema financeiro, responsável por tantas mortes, deveria estar favorecendo a vida”. Quando os banqueiros estão ganhando dinheiro de um lado, proporcionalmente estão morrendo milhares do outro. E há uma lógica nessa relação; ela não é mera coincidência.

As guerras no Oriente Médio estão diretamente ligadas à questão do petróleo e da escassez de água. Na América Latina, quais são nossos maiores problemas ambientais?
A América Latina é abençoada por Deus. Encontramos em nosso país, por exemplo, a maior biodiversidade do Planeta. Temos, inclusive, água abundante e terras férteis, que os outros continentes já não têm. Contudo, as mesmas preocupações que os meus irmãos árabes têm com as guerras no Oriente Médio, poderão ser as nossas daqui a alguns anos, justamente por conta da escassez da água. Costumo dizer que água e petróleo são hoje a mesma moeda, e logo a água estará ainda mais cara. Outro problema a ser tratado é o de nossa cultura de servidão ao sistema financeiro internacional, essa aceitação passiva de uma subserviência que nos torna sempre vítimas da usura do capital estrangeiro, que só faz fomentar a corrupção endêmica que infelizmente nos assola. Em Cochabamba, por exemplo, já houve convulsão social por causa da água. Já no Uruguai foi necessária uma reforma legislativa para que ela voltasse às mãos do governo e da sociedade, pois estava sendo privatizada. Ora, a água é um recurso natural de uso público chamado bem difuso; pertence, pois, a todos e à Nação. A iniciativa privada não pode simplesmente cercar uma bacia hidrográfica e dizer-se dona dela. Antes de tudo, deve-se prover água suficiente para a agricultura, para os animais e toda a população. Somente seu excedente poderia, em hipótese, ser comercializado. A lei ambiental é clara nesse aspecto. E, além disso, ainda há toda uma série de problemas hídricos que deve ser sanada pelo Brasil a fora.

Poderia exemplificar algum?
Temos o Nordeste inteiro na seca e há regiões que têm água, onde esta, por estar contaminada, não pode, ser consumida. Isso sem falar dos problemas de saneamento básico, dos poluentes, dos dejetos, do material inorgânico e dos resíduos químicos que vão parar nas águas! Hoje os maiores contaminadores de águas no Brasil são as próprias prefeituras. As indústrias, devido à enorme pressão judicial, já começam a ter filtros. Diria que hoje são elas as que menos poluem, salvo exceções. Mas ainda há muito dejeto sendo jogado diretamente na água. Recentemente, por meio de nossas redes de informação, a bióloga ambientalista Rose Dantas denunciou o maior desastre ambiental no Rio Grande do Norte, a contaminação, por resíduos químicos, de vários mangues que deságuam nos rios da região. Resultado: 40 mil toneladas de peixes mortos, isso sem contar as pessoas que se alimentaram deles e que morreram por intoxicação, e do quanto isso tem afetado toda a rede de saneamento básico do estado.

E esses casos não são amplamente divulgados?
Na grande mídia, não. Divulgamos por aqui, pelas nossas mídias ambientais, mídias alternativas. Por isso é que ainda estou em pé, pois acredito na importância da informação colocada de forma honesta e transparente. É preciso torná-la ainda didática para que a sociedade possa pensar melhor seus fatos. De novo me vem à mente a palavra consciência; não adianta fugir dela, e gosto particularmente da expressão nova consciência, porque não podemos querer que as coisas continuem sendo feitas ou resolvidas com base nos padrões ultrapassados das velhas meias verdades, por meio de modelos cada vez mais desgastados. Qual a consciência dos que querem ganhar dinheiro e lucrar a qualquer preço, atropelando, para isso, tanto a ética quanto as pessoas envolvidas em seus negócios?

E como podemos ter uma economia mais solidária?
As negociações deveriam servir para fortalecer as comunidades envolvidas no mercado, propiciando, assim, maior inclusão social às minorias; mas, infelizmente, o que vemos são sempre os grandes devorando os pequenos e desrespeitando suas liberdades e direitos. Numa economia solidária, há maior compromisso entre as partes, que primam, sobretudo, por lisura. Por exemplo, se eu tenho uma rede de comércio e a aceito como parceira, devo, é claro, prestar-lhe orientação e assistência. Diante das falhas, ouvimos as queixas e conversamos, aprendemos juntos a lidar com nossas dificuldades e estamos sempre repensando bilateralmente a nossa relação. Isso é uma relação particular de economia solidária. Extrapolando o exemplo para as redes internacionais de negociações, para acordos comerciais firmados entre países, uma economia solidária é aquela que sabe levar em conta as muitas diversidades, como a questão religiosa, as diferentes culturas envolvidas, as situações socioeconômicas de cada país, etc.... fatores determinantes de uma relação de mútuo respeito, com a qual bem se pode promover a paz e encontrar sempre saídas de conciliação diante dos impasses econômicos. É perfeitamente possível associar afetividade a relações econômicas. É basicamente o que propõe nosso projeto BECE.

Fale um pouco do projeto BECE.
O BECE tem a função de projetar o que existe no mercado financeiro, sua estrutura, seus modus operandi de comercialização e de negociação contratuais, enfim, tudo o que se faz numa bolsa convencional [Bovespa, BM&F], de modo a promover a inclusão social de pequenos e médios produtores. Nesse sentido, nossa experiência nas bolsas é bastante útil, e nos preocupamos em desenvolver um programa voltado a uma nova economia financeira, mediante a qual seja possível ajudar a sanear nosso país. Cunhamos uma nova expressão: commodities ambientais, e assim começamos a desenhar uma commodity não–convencional, como a soja, o milho, o café, etc., voltadas somente para grandes mercados.

E o que são commodities ambientais?
Muita coisa pode se inserir neste conceito. Por exemplo, são commodities ambientais as plantas medicinais, as árvores, os alimentos típicos, os artigos artesanais... praticamente tudo aquilo que não vai parar nas mãos das grandes indústrias, nem aquilo que se produz em escala industrial. São artigos e insumos feitos por pequenos produtores. As commodities têm de estar regulamentadas de acordo com um padrão de mercado legal – para compra e venda interna ou até para exportação -, de modo que não fiquem presas somente ao mercado informal. O conceito de commodities compreende uma “mercadoria padronizada para compra e venda”. Embora não sejam artigos produzidos em série, devem estar padronizados dentro de determinado nível de qualidade e de alguns critérios homogêneos.

Qual a maior implicação da diferença entre as commodities convencionais e as ambientais?
As commodities convencionais geram altos impactos no meio ambiente. Elas determinam monoculturas intensivas do solo, enormes escalas de produção, mais tecnologia e menos mão-de-obra. Já com as commodities ambientais ocorre o contrário: há diversidade da produção, pequenos produtores se organizam em cooperativas e desenvolvem produtos diferenciados, como frutas (cacau), plantas medicinais. Tal produção, em menor escala, pode ser ambientalmente manejada de modo sustentável; pode ser exportada ou vendida internamente e passa a gerar empregos e renda para toda uma população. Agindo assim, cada vez mais trazemos para a vida econômica saudável pessoas que estariam alijadas do mercado, submetidas ao exclusivo jogo de interesses dos grandes
investidores.

Poderia nos dar um exemplo prático disso?
Claro! Vejamos o que foi feito com a ayahuasca, bebida atrelada a toda uma história religiosa e própria de algumas culturas indígenas. O que fizeram com ela? “Comoditizaram-na”, isto é, ela foi patenteada nos EUA. Agora, há uma luta jurídica internacional para a derrubada dessa patente, ilegal, a meu ver, posto ser esta bebida um patrimônio da cultura indígena. Quando “comoditizamos”, estamos trazendo algo de uma relação cultural para o mercado. As commodities ambientais são exatamente isso; mas, claro, não para sustentar os interesses financeiros dos empresários ou de grupos lobistas e de certos governos. As commodities visam a trazer benefícios para a própria comunidade que as produz. Afinal, quem deveria ganhar dinheiro com a comercialização da ayahuasca? Seria certo isso? Nem as igrejas que se utilizam da planta como bebida sagrada querem obter lucro algum com ela, ponto este que deveria ser respeitado. Idem em relação às demais plantas medicinais indígenas, que não deveriam estar sendo objeto nem de pirataria ambiental, nem de comercialização por parte dos laboratórios farmacêuticos.

Qual a importância da informação nesse processo?
Trabalhamos com as comunidades, escorados sobre o tripé informação, educação e comunicação. É nessa linha que caminha o projeto BECE. A comercialização em bolsa não é necessariamente o nosso objetivo final, senão o de implantar um novo modelo econômico para a América Latina e o Caribe, onde a moeda seja a produção e não a especulação financeira. Para isso, faz-se necessário que atuemos junto às bases, com pessoas que não têm acesso à internet, que não recebem fácil informação, posto que moram em áreas afastadas, ou em locais onde há exclusão social. Nosso trabalho consiste, ainda, em conscientizar essas populações para que não sejam tolas presas nas mãos dos especuladores, que as levam a assinar contratos absurdos de modo a melhor explorar suas riquezas e matéria-prima. Quando chegamos nesses lugares e falamos ao indivíduo comum, no sentido de melhor orientá-lo, aos poucos vamos inibindo a ação predatória dos grandes especuladores, oportunistas. A única forma de mudar esse modelo econômico deteriorado e disseminado pelo mundo é a partir da ação em pequena escala. Para acabar com a autofagia financeira, é preciso levar aos cidadãos comuns a informação e a educação econômica de forma transparente e isenta, para que cada um saiba melhor se defender e decidir seus caminhos.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Wernech recebe Bruno Covas no CEA Júlio Branco


Secretário de Meio Ambiente do Estado de São Paulo visita CEA Julio Branco, ligado a Oscip Piratingaúna e diz que Região da Serra do Mar paulista está em plena recuperação.
Secretário de Estado, Bruno Covas e Eduardo Wernech
 “Queremos trabalhar com Ong’s e Oscip’s sérias”. Com estas palavras o secretário de Meio Ambiente do Estado de São Paulo, Bruno Covas, neto do ex-governador Mário Covas, iniciou sua visita ao Centro de Estudos Ambientais (CEA) Júlio Branco, no bairro KM-4, em Barra Mansa no sábado, dia 31 de março. Coordenado pela Oscip Piratingaúna, o CEA Júlio Branco é referência em produção de mudas de Mata Atlântica e no trabalho de pesquisa cientifica feito por alunos do Curso de Biologia do UBM (Centro Universitário de Barra Mansa). Bruno estava acompanhado de Ricardo Maciel e foi recebido pelo presidente da Oscip, Eduardo Werneck que o levou para conhecer os viveiros onde são produzidas cerca de 120 espécies de mudas entre elas pau ferro, ipê amarelo, roxo e branco, guapuruvu, aroeira, pau jacaré, monjoleiro, cácia barbatimão, pitanga, jussara, manacá da serra, lobeira e outras. “Estamos visitando os projetos que dão certo e quem faz um trabalho sério a frente das Ong’s e Oscip’s. Temos uma região muita rica em biodiversidade e que faz divisa com Estado do Rio aqui em Bananal e queremos aumentar a área verde da Serra do Mar, que possuiu uma biodiversidade muito maior que a da Amazônia”, disse Bruno Covas, durante entrevista exclusiva ao jornal Folha do Interior.
Bruno Covas - Eduardo Wernech e Ricardo Maciel
De acordo com o presidente da Oscip, Eduardo Werneck, hoje, existem mais 300 mil sementes em processo de germinação. “Até 2013, vamos plantar mais 300 mil mudas. Estamos em fase final do projeto de implantação de um viveiro bastante grande na região entre Bananal e Arapeí para atender o Estado de São Paulo”, explica.
Bruno Covas acredita que em curto espaço de tempo, o Estado de São Paulo pretende ampliar sua cobertura vegetal. “Nossa meta é sair de 15% para 17,5%. Mas temos projetos em andamento que estão dando certo como esgotamento, lixo, água, arborização construções sustentáveis. Hoje, temos 426 programas de coleta seletiva em andamento no Estado de São Paulo espalhados pelos 645 municípios”, disse.